quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Timor-Leste ratifica Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

O país junta-se, assim, a Portugal, Brasil, Cabo Verde e são Tomé e Príncipe que também já ratificaram o Acordo.



Timor-Leste é o quinto Estado-membro da Comunidade de Países de língua Portuguesa (CPLP) a ratificar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, juntando-se, assim, a Portugal, Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, noticia a Agência Lusa.

A informação foi anunciada esta quinta-feira pelo Ministério da Cultura português. De acordo com uma nota divulgada pelo gabinete do ministro da cultura, José António Pinto Ribeiro, Portugal tomou conhecimento da ratificação do acordo por Timor-Leste durante uma reunião de trabalho realizada na quarta-feira com o ministro da Educação de Timor-Leste, João Câncio Freitas.

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi elaborado pela Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira de Letras e representantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). O objectivo foi criar uma ortografia unificada para a língua portuguesa.

O Acordo foi assinado por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe a 16 de Dezembro de 1990, em Lisboa. Timor-leste aderiu ao Acordo em 2004.

O Presidente da República, Cavaco Silva, promulgou o Segundo Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico em Julho de 2008.

Na globalização, o Outro somos nós

Beja Santos

Ryszard Kapuscinski (1932 – 2007) é considerado uma das figuras monumentais do jornalismo moderno. Felizmente alguns dos seus relevantes trabalhos como Andanças com Heródoto, O Império ou Ébano, Febre Africana, estão publicados entre nós pela Campo das Letras, editora que recentemente reuniu seis pequenas conferências sobre o Outro, e onde Kapuscinski analisa e interpreta o que é ser europeu ou não-europeu, colono ou colonizado, branco ou negro. É uma fascinante, se bem que meteórica, viagem pela filosofia, pela história e pela antropologia. A mensagem é de uma enorme riqueza: para o outro nós também somos outros (O Outro, por Ryszard Kapuscinski, Campo das Letras, 2009).
O outro ou os outros, têm múltiplas interpretações, podendo servir para distinguir sexos, gerações, nacionalidades ou religiões, entre outras. Enquanto jornalista, Kapuscinski recorda-nos que a reportagem é o género literário de escrita mais colectivo: ouvem-se ou relatam-se histórias de diferentes testemunhos, trabalham-se depoimentos de quem viu, sofreu ou até possui provas sobre a matéria do relato. Essas pessoas encontradas são tão duais como nós, comportam o ser humano com alegrias e preocupações, mas também o ser humano portador de características raciais, de cultura, de crenças e de convicções. Para o repórter, a questão central que se põe é a relação que existe em cada um de nós, tal como aqueles que depõem nas reportagens. O aliciante é que cada encontro com o outro é sempre um mistério, independentemente da preparação do jornalista. Kapuscinski recorda-nos que toda a literatura universal é dedicada aos outros, desde os grandes pilares da crença religiosa passando pelos clássicos como Homero ou Hesíodo. Nem sempre houve curiosidade em conhecer povos, usos e costumes, fora do nosso território, houve civilizações inteiras desinteressadas no mundo exterior e o autor refere mesmo que África nunca construiu nenhum barco para ver o que há além dos mares que a rodeiam.
A Europa foi o único continente que se revelou o interesse pelo mundo, não só de o conquistar e dominar como também de o conhecer. É uma longa história que nos pode ajudar a compreender a curiosidade de viajantes como Heródoto que acabaram por fazer historiografia. Perceber porque é que o nosso pensamento é eurocêntrico ajuda-nos a entender porque é que o choque das civilizações é um dos fenómenos mais antigos da humanidade. No fim da Idade Média europeia começou a expedição da Europa à conquista do mundo, à subjugação do outro. O outro, para esse europeu, era selvagem e talvez desprovido de alma, o europeu cobiçava ouro e escravos, levava religiosos para darem fé e a salvação, isto não significando que tais relações interculturais e inter-raciais se processassem em planos de igualdade, revelação só surgiu depois do Iluminismo, momento em que o outro passa a ser um problema interno na cultura europeia, problema ético de cada um de nós.
É com o Século das Luzes que se começa a apregoar a ideia da ciência universal e difunde-se o conceito do “cidadão do mundo”. Mais tarde, com o aparecimento da antropologia surgiram duas correntes para interpretar o outro: os evolucionistas que acreditavam no progresso inevitável, era tudo uma questão de tempo dos primitivos chegarem a civilizados; e os difusores que consideravam que no nosso planta existiam várias culturas e civilizações interpenetrando-se e fundindo-se. Quando a antropologia se consolidou, deu-se como certo e seguro que o outro, de raça e tradições diferentes, tem uma cultura social e espiritual bem desenvolvida, não deve ser subjugado mas compreendido.
E chegamos ao fim do séc. XX aceitando que participamos num mundo multicultural, enriquecidos pela experiência do renascimento e por toda uma rica aprendizagem de combate ao racismo, à intolerância e ao colonialismo. Só que, convém não iludir, houve 500 anos de existência de uma relação desigual que só começa a mudar de natureza com o processo de descolonização. Se no passado os outros eram os não-europeus, agora arrostamos com a complexidade de uma escala ilimitada de nos entendermos com todas as raças e culturas. Caminhamos para a globalização, e aqui os outros são sujeitos a olhar o outro e a procurar entendê-lo à luz das grandes mudanças desencadeadas pela electrónica e pela consciência crescente das desigualdades. A globalização salda-se num número impressionante de contactos e encontros, com um sem número de obstáculos no caminho de que o narcisismo cultural é um dos mais importantes. A grande novidade é ver hoje o acatamento pela diversidade ao lado da percepção do direito à existência e a uma identidade própria. Como nos recorda Kapuscinski, tudo isto coincidiu com a grande revolução das tecnologias de comunicação que possibilitou o encontro multilateral das culturas.
Possuímos um retrato de aquilo que pensamos sobre os outros: partimos da cor da pele, da língua com que nos entendemos, a religiosidade, tudo isto somado faz com que prevaleça de mim para o outro uma poderosa carga emocional sobre o tom de pele, a nacionalidade e a religião. Os EUA têm um tratamento diferente dos europeus porque circulam pelo mundo com o passaporte, aceitam ser percebidos pelos outros pela sua nacionalidade e não pela sua cor ou religião.
Escreve Kapuscinski: “O mundo, para mim, foi sempre uma grande Torre de Babel. Mas uma torre onde Deus misturou, não só línguas, mas também culturas, paixões e interesses, e onde criou, como habitante, um ser ambivalente que une em si um eu e um não-eu, ele próprio e o Outro, o seu Outro e o estranho. E assim chegámos à aldeia global, onde assistimos ao paradoxo da globalização dos media ao mesmo tempo que aumenta a superficialidade, a falta de coesão e o caos… É um mundo que, potencialmente, dá muito, nas também exige muito, e onde as tentativas de escolher um percurso com atalhos não levam a parte nenhuma”.
Estamos pois a descobrir um novo Outro entre o global e as nossas particularidades, esse talvez seja o maior desafio para o diálogo concordante com o Outro. Ao citar Joseph Conrad, Kapuscinski questiona como vai ser esse encontro. Ele dependerá da nossa capacidade e o prazer e encantamento, para o significado do mistério que rodeia as nossas vidas, mas também para a solidariedade, na alegria, nos desgostos, nas esperanças e nos medos que ligam os homens entre si. É dessa capacidade de ligar que dependerá o entendimento e a solidariedade de nós com o outro, do outro conosco.

Coleção Pequenos Frascos: Escritos sobre Ciência e Religião

 O novo título da Coleção Pequenos Frascos oferece uma ótima síntese do pensamento educacional e filosófico de Thomas Henry Huxley, um dos maiores defensores da teoria da seleção natural de Charles Darwin.

Escritos sobre Ciência e Religião traz três de seus mais relevantes ensaios, um deles relativo à educação, os outros dois sobre crenças religiosas e seu contraste com o pensamento científico. Fazem parte desta coletânea "Sobre a conveniência de se aperfeiçoar o conhecimento natural", "Ciência e cultura" e "O natural e o sobrenatural".

Neste lançamento da Editora Unesp fica claro que, mais do que construir teorias científicas, a preocupação de Huxley era com ideias e atitudes.

Sua defesa da ciência em detrimento do pensamento religioso está ligada a uma visão filosófica sobre a natureza da pesquisa científica e de sua oposição à religião. O que o levava, inclusive, a defender o estudo da Bíblia nas escolas, tanto por causa de seu valor literário quanto por suas mensagens éticas.

Permite ao leitor entrar em contato direto com o estilo eloquente de um grande pensador do século XIX – um cientista que teve enorme influência não apenas por suas pesquisas, mas também por seu esforço para solucionar algumas questões mais amplas que possuem interesse direto para toda a humanidade.

Sobre o autor – O biólogo britânico Thomas Henry Huxley ficou marcado pela intransigente defesa da teoria da evolução, principalmente pelo debate o que o opôs ao Bispo Samuel Wilberforce. Também tem extensa contribuição na pesquisa científica, notadamente na embriologia, onde foi um dos grandes nomes da teoria biogênica.

Coleção Pequenos Frascos – Obras de agradável leitura em edições de bolso cuidadosamente editadas. Já foram lançados os seguintes títulos: Como escolher amantes e outros escritos, de Benjamin Franklin; O Filósofo autodidata, de Ibn Tufayl; Reflexões e máximas, de Vauvenargues (Luc de Clapier, Marquês de); e Modesta proposta, de Jonathan Swift.

Serviço:

Título: Escritos sobre Ciência e Religião

Autor: Thomas Henry Huxley

Número de páginas: 144

Formato: 11,5 x 18 cm

Preço: R$ 25

Os livros da Fundação Editora da Unesp podem ser adquiridos pelo telefone (11) 3107-2623 ou pelos sites: www.editoraunesp.com.br ou www.livrariaunesp.com.br